Ode Natalícia

Já aqui foi dito, caro leitor, que não me considero poeta. Todavia, de quando em vez lá me surge aquela enfermidade a que chamam “inspiração” e, apesar de sentir que o paracetamol até remedeia a maleita, lá me rendo aos seus sintomas e escrevo aquilo que pode ser confundido com um poema. Quero que fique claro que não o é! É antes um “chorrilho de parvoíces que por acaso até rimam”, como ficou esclarecido por alturas do meu último ataque poético. Contudo, há que ter em conta que chamar o mesmo nome a duas coisas não é bonito e, portanto, aproveitando que é Natal, aqui fica o meu “chorrilho de parvoíces natalícias que por acaso até rimam”.


Ode Natalícia

Ó luzes mágicas que me guiam o caminho!
Que lugar me mostrais com a tua claridade?
Parece mágico, parece que cheira a azevinho…
Parece cheio de risos, alegria e felicidade!
Parece a terra onde nasceu o Natal,
Mas, afinal, é um Centro Comercial!

Adiante, nós vamos
Nos nossos trenós sem renas!
Somos o Pai Natal de nós mesmos,
Num pólo norte de lojas pequenas!

Os tempos são árduos e a crise bate à porta,
Mas na quadra natalícia nada disso importa!
Façamos, então, prendas com engenho inédito,
Ou, em vez disso, estoiremos o cartão de crédito!

De loja em loja saltitamos,
Quais duendes em frenesim!
Compramos tudo à última hora
Porque o “tuga” é mesmo assim…

Os presentes, o anseio das crianças,
Os pedidos, os sonhos e as esperanças…
Esperem! O São Nicolau enganou-se na rota!
Que desastre seria,
Se não tivéssemos a Popota!

Os contos de Natal e os momentos à lareira…
Raros postais do que já foi dessa maneira!
Melhor é na consoada olharmos fixos e ledos
Para as estrelas cadentes da Casa dos Segredos!

Estranhos modos tenho eu de falar
Desta quadra de paz e de cor…
Se reparar, estive só a empatar
Para, no final, poder desejar
“Feliz Natal” ao caro leitor!

Feliz Natal!

2 reacções a Ode Natalícia

  1. Anónimo says:

    Caro amigo, mais uma vez, parabéns.
    Mais um excelente post cheio daquilo que tanto lhe é caracteristico e que faz jus à sua belissima escrita, o bom do sarcasmo!

    Não é poeta? tem a certeza? olhe que...

    Passe um bom Natal e que o ano novo lhe traga e conserve todas estas qualidades.

    António

  2. D says:

    Uma das mais belas críticas ao consumismo natalício e à perda do verdadeiro sentido do Natal que tenho visto! Muito engenhoso... e talentoso também!! (não me espanta!)

    Desejo-te o tal Natal mágico e cheio de risos, alegria e felicidade! ;)
    ...Um Natal Feliz!!

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