Ode Social

Hoje, caro leitor, estava a sentir-me inspirado…depois tomei um ben-u-ron e passou-me. Como já me estava a sentir melhor decidi escrever algo poético. Não sou, de forma nenhuma, poeta e por isso sinto um certo embaraço em chamar ao que fiz “poema”. Assim sendo, prefiro simplesmente chamar-lhe “chorrilho de parvoíces que por acaso até rimam”. Feito que está o devido reparo, aqui fica o meu chorrilho de parvoíces que por acaso até rimam.  


Ode Social

Triste, a solidão que me atormenta noite e dia.
Ó que estranha luz me liberta desta dor?
É o Explorer na sua infinda sabedoria,
A ligar o Facebook no meu monitor!
Um, dois, três, quatro breves cliques e já está!
Abre-se a janela sobre um mundo novo!
Comunguemos, caro amigo, caro leitor,
Deste modernizado Ópio do Povo
Que a bendita Internet nos dá!

Nome, ocupação, sexo e idade?
Perguntas de uma tal simplicidade
Que fazem da palavra “privacidade”
Expressão imprópria e vil!
Gostos, interesses, foto e estado civil,
É tudo quanto basta para criar um perfil.

Vou adicionar-te a ti, a ti e a tantos mais!
Não me renegues, pessoa que eu odeio,
Vamos ter conversas banais…
Não interessa se te falo quando te vejo!
Vamos ser amigos virtuais!

Partilhar as fotos das viagens que fiz.
Ó ditosa ferramenta que permites tal proeza!  
Mostrar a todos como sou feliz
E velar a minha tristeza,
Com comments, tags e afins!

Comento tudo o que há para ser comentado!
Nem preciso ser sincero. Basta-me ser gentil.
Escrevo em Português errado,
Mas sou campeão do FarmVille!

Se a actividade rareia no Mural,
Publico uma foto semi-nu!
E sou visto por um predador sexual
Porque temos um amigo em comum…

Ah, que alegria a popularidade!
Falar no chat, fazer pedidos de amizade!
Não! Não me farto e até aposto
Que a cada vídeo estúpido vou clicar “gosto”!

3 reacções a Ode Social

  1. Susana says:

    A esta post só há um comentártio possivel de ser feito...é lamentavel não haver um botão para clicar-mos "GOSTO"!!! lol um máximo, parabéns!

  2. José M says:

    De facto, nós, humanos, somos gregários e interactivos desde sempre, só funcionamos em bando desde que o mundo é mundo, logo, qualquer ferramenta ou forma de expressão que nos ajude a manter a ideia de comunidade é sempre bem-vinda.
    Mas, caro amigo (permita-me que o trate assim) terá de concordar comigo... houve um tempo em que mesmo em bando, reservávamos um espaço doméstico e quase sagrado, onde a solidão não era temida, onde a alegria e a tristeza eram divididas apenas com pessoas da maior confiança. Onde o isolamento favorecia a reflexão.
    Ultimamente, somos papagaios: falamos, reproduzimos outras falas, fazemos um barulho imenso, mas pouco do que é dito importa de fato. Temos medo de ficar sozinhos e em bando, nem sempre dá para refletir.
    É dada tanta disciplina inutil na escola...e porque nao darem aos alunos o conceito de silêncio?, tanto no ambiente virtual quanto fora da rede, dar a perceber que este tem mais nuances do que simplesmente ausência de ruído. Guardar silêncio, quando não se tem nada que valha a pena ser dito, é uma atitude sábia e respeitosa com os demais.
    Gostei do artigo, está muito bem conseguido!
    José M

  3. Caro José M., sempre ouvi dizer que fomos dotados de uma boca e dois ouvidos para que escutássemos mais e falássemos menos. No entanto, caro amigo, parece-me que nos últimos anos a humanidade tem sido afectada por uma espécie de mutação, e as bocas são mais que muitas! É o “síndrome do papagaio” – permita-me que pegue na sua deixa – que graças às novas tecnologias se alastra a um ritmo imparável. Que fique claro que não atribuo culpas ao desenvolvimento tecnológico. A tecnologia simplesmente não foi idealizada para ser usada por papagaios…

    Mais uma vez, obrigado a todos pelos comentários!

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