O país dos Quatro F's

No ano de 1373, Portugal e Inglaterra assinaram a Aliança Luso-Britânica. Ainda assim, o casamento entre as duas nações nem sempre foi pacífico e, finalmente, creio ter descoberto o motivo de tantos arrufos: a pontualidade.

A pontualidade parece ser, tanto quanto a história consegue recordar, a imagem de marca do povo britânico. Do lado luso, a imagem de marca tem sido, desde a obscura época do Estado Novo, os Três F’s – fado, futebol e Fátima. Mas, como tudo aquilo que faz a viagem do passado para o futuro, esta expressão corre o risco de se tornar obsoleta e, por isso, aqui se procede à sua actualização: Portugal, o país dos Quatro F’s! “E qual é o quarto F?”, questionará o leitor. É a falta de pontualidade, claro está.
Portugal, infelizmente, sempre se pautou pelo atraso constante e até é de admirar como é que os governantes dos dois reinos se conseguiram encontrar na mesma sala, à mesma hora, para assinar o supracitado acordo. A falta de pontualidade é algo que está tão enraizado na cultura do povo português como o próprio folículo do tradicional bigode que, a dada altura, toda a gente usou…até os homens.
O português rege-se, portanto, por um fuso horário muito próprio e, felizmente, o nosso povo já aprendeu a lidar com este retardamento crónico: habituámo-nos a contar com o atraso uns dos outros. Contudo, embora este método possa parecer a solução para ninguém esperar por ninguém, a lógica deste raciocínio coloca-nos perante um problema a longo prazo: o atraso português é exponencial! Trata-se, sendo assim caro leitor, de um problema matemático…o que também não é o forte dos portugueses. A nossa fraca pontualidade é um triste hábito, diga-se, mas parece-me que já não vamos a tempo de corrigi-lo…
O leitor mais atento com certeza já terá reparado que o presente artigo está uma semana atrasado. Podia pedir desculpa ao leitor pelo meu incumprimento, mas não o farei! Aquilo a que muitos chamarão irresponsabilidade, eu chamo patriotismo!

Viva Portugal!

Uma reacção a O país dos Quatro F's

  1. Anónimo says:

    Caro Luís,
    Portugal integra-se nas chamadas culturas policrónicas, isto é, em que não é mal visto falhar os compromissos, sendo frequente a sobreposição de reuniões e preenchimento simultâneo das agendas, aparentando, por vezes, uma eficácia e produtividade que, na realidade, não se verificam. A obsessão pelo relógio, não é, com efeito, o nosso forte.
    Foi recentemente divulgado um estudo levado a efeito pela AESE sobre a “Pontualidade em Portugal”, que vem confirmar, o que já não é novidade para ninguém, que os portugueses não são pontuais.
    O estudo conclui por um panorama desolador e afirma que o défice nacional de atitude pontual é uma característica que condiciona negativamente a eficiência e a competitividade da sociedade e economia portuguesas, para concluir que existe uma relação intimista entre pontualidade e performance.
    O estudo não demonstra de um ponto de vista económico a evidência daquela relação, mas refere que estamos perante uma enorme irresponsabilidade social e profissional com impactos marcantes na produtividade.
    A falta de pontualidade é, sobretudo, uma séria falta de respeito e desconsideração pelo próximo. É uma falta de educação. Uma pessoa que chega atrasada a um encontro está a desdenhar da outra, porquanto acaba de lhe roubar tempo.
    A falta de pontualidade está tão enraizada em Portugal que me atrevo a dizer que assume contornos quase “genéticos”. Mas não é um problema que não possa ter solução.
    Recordo-me de Miguel Torga ter dito que os portugueses medem as horas, não pelo relógio-cronómetro, mas pelo relógio “telúrico”. Ora, como este último “rolex” tem as suas manias (e não é de imitação!), oscilando ao sabor dos solstícios e equinócios, é muito provável que nas próximas gerações não consigamos cumprir com os horários!
    Portanto, não lhe querendo chamar mal educado mas, seja um exemplo!
    Cumprimentos
    Margarida Aguiar

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