Alarme Silencioso

Estava a ler um dicionário para descontrair, quando me deparei com a seguinte definição do vocábulo “silêncio”estado de uma pessoa que cessou ou se abstém de falar ou de produzir qualquer som.
Desta definição concluí que a sociedade de hoje em dia é irremediavelmente barulhenta. Ninguém se abstém e todos têm, a toda a hora, uma opinião a dar ou um ponto a contrapor. “Não me diga que tem alguma coisa contra opiniões?!”, indagará, ironicamente, o leitor. Essa é uma questão muito complexa, caro leitor… “Não é capaz de responder a uma pergunta com um simples ‘sim’ ou ‘não’?”. Não.

Ora, o âmago da problemática reside aí mesmo, no vazio de substância das ditas opiniões. Contudo, esta inanição não impede o imediatismo fúngico do surgimento das mesmas sob as mais distintas roupagens: um comentário no Facebook, um artigo num blogue – o género mais irritante, aliás –, ou um vídeo no Youtube. Chamo à atenção que todas as plataformas atrás enunciadas são louváveis e não costumam processar por difamação.
Alberto Caeiro dizia: "Procuro encostar as palavras às ideias". O problema é que, à falta de ideias, as palavras caem desamparadas. As pessoas têm mais pressa em dizer algo pretensioso do que em dizer algo sincero. A humanidade parece ter sido tomada por uma alergia ao optimismo e com ela desenvolveu a sensibilidade de um cacto. E, tal como a bizarra planta, esperamos inertes pela próxima oportunidade para espetar o nosso espinho.
A título de exemplo, realço as críticas ao mais recente anúncio da Coca-Cola, que, para além de promover o produto – claro está! –, transmite uma mensagem de esperança num mundo melhor. Muitos se apressaram a refutar essa mensagem, corrigindo os dados estatísticos apresentados pela marca com uma intenção que me parece ser, simplesmente, a de contrariar “porque sim”. Pois eu, caro leitor, qual miúdo de 5 anos, também fiz o trabalho de casa e com uma precisão científica arrebatadora afirmo: por cada optimista, existe meia dúzia de pessimistas.
O paradigma inverteu-se. Nos últimos anos, o silêncio tornou-se no mais ruidoso dos fenómenos e incomoda como o alarme daquele carro que dispara todas as noites. A sociedade já não sabe viver sem o constante rumor das opiniões e, na minha opinião, a solução para o problema passa por se calar quem não tenha nada de jeito para dizer. Tendo isso em conta, peço perdão e fico por aqui, caro leitor.    

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