"Mãe, estou aqui!"

No final do séc. XIX, os irmãos Lumière promoveram um salto tecnológico que causou furor no universo dos actores desempregados: criaram a câmara de filmar. Com o passar dos anos, a filmagem tornou-se banal, mas a geringonça destes irmãos acabou por adquirir capacidades que tangem o sobrenatural…

Vítima da minha própria inocência, durante anos encarei a câmara de filmar como um simples aparelho de captura de imagens em movimento. Certo dia, ouvi alguém dizer: “a câmara acrescenta-me cinco quilos!”. Estranhei tal despropósito, visto não reconhecer quaisquer valores nutritivos à câmara. Contudo, este facto fez-me despertar. A câmara, afinal, é mágica.
“Largue a droga!”, avisará o leitor. Não seja tacanho, caro leitor. A câmara é, de facto, mágica. São inegáveis as suas misteriosas propriedades, capazes de perturbar os circuitos das máquinas e as células dos seres. Note-se que não só nutre, como consegue amplificar a rede dos telemóveis e reforçar os laços de afecto: para onde quer que aponte uma câmara, existe uma pequena multidão que aproveita para telefonar à mãezinha e descansar-lhe o coração com um simples “mãe, estou aqui!”. A objectiva também provoca surtos de adrenalina e palermice em geral: para onde quer que aponte uma câmara, existe um bravo pronto a saltar de uma varanda ou disposto a afocinhar numa valeta. Atenção, não estou a condenar ninguém, caro leitor. Repare que criticar é uma cena que, a mim, não me assiste.
Existe, portanto, um padrão: para onde quer que aponte uma câmara, as massas convergem. Surpreendentemente, isto pode solucionar os problemas do nosso país! Prepare o seu guarda-jóias, caro leitor, que vem aí uma pérola de sabedoria: apontem câmaras aos locais de trabalho, às escolas e às assembleias de voto! Estes locais tornar-se-ão simplesmente irresistíveis, e todos comparecerão. Todos excepto aqueles que estejam fechados dentro daquela casa que tem câmaras a apontar para todo o lado… Enfim, isso agora não interessa nada!
Para finalizar, gostaria de partilhar um estranho facto com o leitor. Enquanto escrevia este post engordei 15 quilos e senti-me especialmente estúpido! Tinha três câmaras a apontar direitinho a mim…terá sido isso? Se foi, há que proceder à correcção dos factos históricos. Irmãos Lumière: inventores da parvoíce.

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