Como os passarinhos?

Verão - estação que se segue à Primavera e precede o Outono.

É esta a definição que o dicionário de Língua Portuguesa nos dá para a estação mais quente do ano. Fique o caro leitor a saber que esta definição é manifestamente insuficiente. No dicionário da Língua dos Portugueses, o Verão é sinónimo de “migração para as terras do sul”. “Como os passarinhos?” perguntará o leitor. Não seja infantil, caro leitor. Os passarinhos não são para aqui chamados.
“As terras do sul” – não queria dizer nomes, mas chamemos-lhes Algarve – atraem gentes de todo o Portugal. O respeitável cidadão português passa, então, a chamar-se turista. Deixa de usar sapatos e passa a usar havaianas. Deixa de comer sardinhas e passa a comer sardines. As praias enchem, o sol torna-se uma obsessão e o mar o habitat favorito. O pai de família joga raquete e a avozinha faz topless. Simplesmente vergonhoso! Um pai de família não devia jogar raquete…  


O processo de migração, no entanto, inicia-se com um ritual intelectual complexo e que carece, até hoje, de explicação científica. Durante a época balnear, diversas famílias portuguesas desafiam a Física, e enxertam um apartamento T3 dentro de um Fiat Uno. Apenas as preocupações não seguem viagem. A famigerada crise não tem espaço na bagageira, mas o periquito sim. “Afinal os passarinhos fazem parte da história!” dirá o leitor. Deixe-me que lhe diga, caro leitor, que tem uma fixação por passarinhos…devia ver isso.
E assim vão os portugueses, em busca de uma versão menos vestida de si próprios, atormentados pela ideia de, à chegada, ter de tirar o T3 do Fiat para metê-lo num T1. Nada que não seja superado com uma ida à praia, ou um saltinho ao centro comercial para rebentar com o subsídio de férias, perdoe-me o leitor a vulgaridade da expressão. “Irresponsabilidade? Veleidade?” Gostaria de discutir isso consigo, caro leitor, mas estou atrasado. Já devia estar na praia.

(ilustração por Ana Isabel)

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